Todos os anos, nos dias 15 e 16 de janeiro e 15 e 16 de dezembro, acontece um evento que vem sendo repetido desde 1578 perto da estação Setagaya, em Toquio!
Boro-Ichi! O nome não é muito atraente, já que traduzido literalmente significa Feira de Retalhos (ou Feira de Velharia?!) Bem, impressões à parte, há tempos pensava em ir porque fiquei sabendo que poderia adquirir tecidos japoneses e retalhos de kimonos a preços imbatíveis. Eu adoro colecionar tecidos e retalhos e não poderia deixar passar esta oportunidade. Afinal, nunca se sabe quando vou precisar e ter o material à mão já é meio caminho andado.
Como este ano foi meu último ano no Japão, criei coragem e fui a busca de meu baú de tecidos japoneses. Depois de algumas baldeações, com direito a trenzinho de 2 vagões extremamente lotado, cheguei em Setagaya!
A aventura começou logo na porta da estação, com barraquinhas de petiscos, docinhos e sopas quentes. Para não perder tempo, ignorei o estômago e fui procurar as lojas de tecidos. Havia centenas de barraquinhas montadas nas ruas, uma colada na outra e milhares de pessoas preenchedo qualquer espaço disponível. De acordo com as estatísticas, havia cerca 700 vendedores e 200.000 visitantes! Parecia com um flea market com muitos produtos usados, algumas velharias beirando a antiquidade... e kimonos! pilhas e mais pilhas de kimonos usados, nas mais variadas condições imagináveis.
Depois de vasculhar pilhas e mais pilhas de tecidos, encontrei duas peças de tecido que me agradaram. A rosa parece ser seda e a azul parece um brocado.
Agora tenho que criar um projeto para utilizá-las!
As peças de tecidos para kimono têm normalmente 36cm de largura por 3.8m de comprimento, medidas ideais para não precisar cortar o tecido longitudinalmente.
Há uns anos atrás eu tive a oportunidade de aprender a costurar um yukata a mão! O yukata é muitas vezes confundido com o kimono, mas ele é bem mais simples, feito com tecido de algodão e usado no verão. Foram várias aulas semanais onde a professora mediu, cortou e marcou o tecido e depois eu costurei. Já falei que foi a mão? Pois então, costurei metros e mais metros de pano. Às vezes, depois de espetar o dedo várias vezes, dava vontade de, sorrateiramente, passar a máquina na coisa. Mas continuei, determinada a fazer o yukata como deve ser feito: com muito suor e espetadas no dedo!
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Kato-sensei dando uma retocada num yukata. |
Nas aulas aprendi não só o método tradicional de se costurar um yukata, como também a utilizar um instrumento muito útil quando se costura a mão: Kukedai e Kakehari (くけ台とかけはり). Basicamente, utiliza-se o kukedai e kakehari como uma terceira mão, para esticar o tecido enquanto se costura a mão. Assim o tecido não enruga.
No
Wikipedia encontrei uma ótima descrição deste instrumento. Eis aqui uma ilustração do kukedai que se usa quando se costura sentado no chão à la japonesa.
Na versão mais moderna, prende-se o kukedai na mesa.
Nada de costurar sentada no chão!
Assim, depois de alguns suados meses, terminei meu yukata.
Obrigada, Kato-sensei!
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Caroline vestindo um kimono tradicional de 12 camadas. |
Todos os anos, Kato-sensei acompanha um grupo de estrangeiros até
Saiku, perto do Templo de Ise, na Província de Mie. Neste passeio, alguém se voluntaria para vestir um kimono tradicional de 12 camadas,
Juunihitoe (十二単) que era usado antigamente pelas mulheres nobres.
Aqui poderão ver uma sequencia de fotos de uma das alunas de Kato-sensei sendo vestida. Quando eu fui, Caroline foi escolhida para ser nobre por um dia. Belíssima!